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Tooru Nagashi, a ponte entre os mistérios da Vida e da Morte

Tooru Nagashi é uma celebração de origem japonesa, que acontece uma vez por ano, em todos os dias de Finados, ou seja, no dia em que nos dedicamos para homenagear (ou lembrar) dos mortos que, um dia, amamos nesta existência, e que seguimos amando, apesar de eles estarem do outro lado da ponte entre a Vida e a Morte.
Trata-se de uma celebração que cresceu com o passar dos anos: a soltura de barquinhos de papel de seda coloridos, no formato de uma lanterna, soltos sobre o leito do rio, e levando, cada um, uma vela acesa. Juntos, os barquinhos seguem pela correnteza, levando as suas velinhas acesas até perderem-se de nossas vistas, como numa procissão silenciosa e muito comovente.
Apesar de esse dia ter se tornado um encontro bem grande e bem festivo na cidade de Registro (onde moro), o momento da soltura das lanterninhas de papel, levando as velas acesas e flutuando silenciosamente sobre as águas, continua sendo um instante solene, introspectivo e, de certa forma, solitário. Porque, não há quem não tenha, pelo menos, um ser amado que, cumprindo a sua jornada aqui na Terra, já tenha cruzado a ponte que atravessa as águas do rio da Vida, rumo ao novo Destino além da Morte. Sobre esse assunto, um dia, eu ouvi estas palavras de meu amigo Kuniei Kaneko (que também já cruzou o seu limiar, a sua ponte. E vive do outro lado do rio).

Numa abertura do Tooru Nagashi, Kuniei Kaneko fez um discurso muito simples e muito profundo. Com sua maneira calma de falar, ele explicou o que era a Morte, do ponto de vista de algumas religiões, e em seguida, o que era a Morte do seu próprio ponto de vista.
“Para mim, a morte não existe, ela é uma coisa natural. Se um homem vive bem e faz o Bem para os outros sem esperar nada em troca, ele não precisa pensar na Morte. Se ele planta coisas boas, se ele cuida das coisas boas que faz, se ele ama a sua família, os seus amigos, a sua vida, para que ele precisa pensar na morte?
‘Quando a morte chega para um homem assim é porque ela tinha que chegar, era a hora. E se era a hora, ele vai embora feliz, porque ele sabe que leva junto com ele, um pouquinho de tudo de bom que ele fez e viveu. E leva também um pouquinho de todo mundo que ele amou e vai continuar amando, mesmo depois de morrer.
‘Isso é mais ou menos o significado do Tooru Nagashi: o corpo morrre. O espírito, não. Um homem não termina embaixo da terra, porque o espírito segue adiante. Isso é Destino.’”

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