Cely Naomi Uematsu
Cely Naomi Uematsu nasceu em São Paulo, em 1964, mas passou infância e adolescência em Registro, no Vale do Ribeira. Em 2016, depois de morar em São Paulo, Curitiba, Kusatsu-Machi, Tokyo e Botucatu, voltou a viver e a trabalhar oficialmente em Registro, na baixada do rio Ribeira.
Cely Naomi Uematsu é escritora, dramaturga, ilustradora, artista plástica, bonequeira, origamista, curadora e empresária do setor criativo. Ela é proprietária da Casa de Artes e Ofícios Shigeo, o espaço cultural independente que funciona desde 2007 na casa que herdou de seus pais, e que está com a família desde que o avô, Akira Uematsu, a adquiriu em 1948.
Sua carreira plástica iniciou-se na adolescência, principalmente pelas mãos do pai, Shigeo, comerciante, artista e artesão japonês nascido em Tokyo, mas naturalizado brasileiro. Com ele, a artista aprendeu a pintar, desenhar e preparar suportes. A carreira literária começou com a mãe, Thereza, professora alfabetizadora que a iniciou nos clássicos e nos contos de fadas. Ainda jovem, foi uma das idealizadoras do ENCARTE, Encontro de Arte, o primeiro movimento organizado de artistas do Vale do Ribeira. Depois, com amigos, fundou o cineclube Conheim, que teve uma curta e brilhante vida criativa na cidade de Registro.
Nos anos oitenta, já em São Paulo, depois de uma passagem pela FFLCH USP, Cely Naomi Uematsu fez cursos como cenografia, teatro de sombras e figurino. Integrou o Grupo de Teatro Independente Galo de Briga, grupo que surgiu no meio universitário da USP ainda nos anos setenta, e que atuava predominantemente nos bairros periféricos de São Paulo, mas também em cidades interioranas como Registro e Sete Barras, no Vale do Ribeira, e em outras cidades do interior de Minas Gerais e Goiás, sempre com o intuito de levar a arte e a cultura às pessoas mais desvalidas e carentes, aquelas que nunca tinham acesso a nada, muito menos à Arte. Nesse formato de grupo teatral, onde o palco poderia ser a carroceria de um caminhão, o altar de uma igrejinha, caixotes armados sob um viaduto, e até mesmo o palco de um teatro convencional, ela aprendeu a fazer de cenografia à criação de figurinos e adereços; de montagem/desmontagem do espetáculo, a atuar e dirigir; de tocar instrumentos a assumir sonoplastia e iluminação.
Por acreditar que o seu ofício como escritora não se encerrava em escrever, mas, também, em ilustrar e produzir os seus próprios livros, Cely Naomi Uematsu obstinou-se em aprender tudo a respeito das etapas de produção de um livro. Durante anos, trabalhou como revisora freelancer para editoras como Paz e Terra, Cultrix/Pensamento, entre outras. Também aprendeu todas as etapas da produção gráfica, desde a concepção de capa, passando pelas ilustrações, preparação, escolha de papeis e acompanhamento da obra até a entrada nas máquinas para a impressão/encadernação final.
Nos anos noventa, no Japão (Kusatsu-Machi e Tokyo), ela desenvolveu pesquisas em dobradura de papel (origami), contos infantis japoneses, teatro negro (Kurotento) e teatro de rua japonês, onde descobriu a existência do teatro de papel (Kamishibai).
De volta ao Brasil, em Curitiba, desenvolveu e ministrou cursos e oficinas com foco em origami, contação de histórias, teatro de sombras, teatro de papel (kamishibai) e teatro de bonecos.
No final dos anos noventa, já morando em Botucatu, fundou o Grupo de Teatro Sombra e Luz, especializado em produção de peças teatrais voltadas para o público infanto-juvenil, através das técnicas do teatro negro de bonecos, teatro de sombras (com máscaras movimentadas por varetas longas de bambu, que adaptou das varetas de bambu do teatro de marionetes de água, do Vietnam) e o teatro de papel, kamishibai.
No ano 2000, formou-se na pedagogia waldorf. Nesse ano, também ilustrou e publicou o seu primeiro livro infantil. Quase um fanzine, o curumim ganhou ilustrações da artista em bico de pena e encadernação artesanal.
Entre 2000 e 2015, Cely Naomi Uematsu escreveu, montou e dirigiu as seguintes peças infanto-juvenis: a estrela de natal (peça de teatro de sombras); o saci e o curupira (peça de teatro de fantoches); a menina da lanterna (peça de teatro de sombras); a princesa e o comandante (peça de teatro negro de bonecos que unia as técnicas de teatro de sombras, teatro negro de bonecos e o teatro de marionetes de água, do Vietnam, de onde retirou a inspiração para a movimentação das máscaras de sombras com varetas longas de bambu); a princesa do castelo em chamas (Kamishibai); os dois irmãos (Kamishibai), entre outras.
Em 2012, Cely Naomi Uematsu escreveu, ilustrou, produziu e publicou de forma autoral, três livros infanto-juvenis: o caracol, os peixes e o vento (ilustrações em aquarela); o lenhador que virou pedra (ilustrações em desenho e bico de pena) e Sônia e o gnomo do Bosque Velho (ilustrações em aquarela e desenho). Em 2014, foi a vez de o Cavaleiro Sapo, conto de fadas autoral inspirado no conto sapo rei, compilado pelos Irmãos Grimm, com ilustrações em aquarela e bico de pena. Livro que ela considera, até hoje, o seu melhor trabalho como ilustradora e produtora gráfica.
Entre 2014 e 2015, publicou o Cavaleiro-Menino e o Cavaleiro-Menino e as goiabas do Tururunki, os dois primeiros livrinhos da sua série as aventuras de Tururunki, voltada para crianças bem pequeninas, com ilustrações em desenho e aquarela. Nesse período, também escreveu a sua primeira dramaturgia para “seres humanos”: a peça Miyamoto Musashi, do guerreiro selvagem ao samurai zen. Ela foi montada e encenada pelos alunos da Escola Waldorf Viver, no Teatro Municipal de Bauru-SP.
Entre 2014 e 2016, em parceria com a Associação Bom Samaritano, idealizou, coordenou e dirigiu o projeto Sombra e Luz, cujo objetivo era levar o teatro de sombras para idosos em situação de extrema vulnerabilidade social. Mesclando máscaras bidimensionais e atores vivos (os próprios idosos), Cely Naomi Uematsu escreveu as peças o jovem fanfarrão e sonhos, especialmente para serem encenadas por eles. As peças foram apresentadas no Teatro Municipal de Botucatu e no Teatro do CineNelly.
De 2007 a 2015, em parcerias com ongs, associações, entidades filantrópicas e UNESP-Registro, Cely Naomi Uematsu ajudou a promover atividades artísticas, culturais, pedagógicas e agroecológicas em Registro, através de seu espaço cultural independente Casa de Artes e Ofícios Shigeo. Entre outras, a apresentação do músico multidisciplinar Marcelo Petraglia; a oficina de euritmia e danças brasileiras, de Suzana Lehmann Murbach; a apresentação do grupo de Folia de Reis da Comunidade Monte Azul; a palestra do jornalista, escritor e dramaturgo Luciano Martins Costa; o lançamento de sua série as aventuras de Tururunki; oficinas de capoeira, debates sobre agroecologia e oficinas de aquarela. Sempre de forma gratuita, e tendo como público-alvo os moradores do Vale do Ribeira, em especial, os moradores do entorno da Casa de Artes e Ofícios Shigeo, formada especialmente por ribeirinhos, negros, descendentes de imigrantes japoneses, jovens em situação de extremo abandono social.
Finalmente, em 2016, Cely Naomi Uematsu decidiu voltar a viver em Registro e assumir pessoalmente a coordenação geral das atividades do espaço cultural independente Casa de Artes e Ofícios Shigeo. De lá até os dias atuais, concentrou-se na reestruturação do espaço físico, focando-se na produção de eventos culturais e artísticos. Assumiu a curadoria de exposições individuais, oficinas, workshops, palestras, shows e encontros literários, artísticos e culturais. Dentre eles, PARE O MUNDO, exposição individual da fotógrafa e artista visual Fabiana Blanco; MÃOS DE BARRO, exposição individual da ceramista Cristina Brant; a oficina de fotografia DE OLHOS VENDADOS e a palestra MOTTAI-NAI, do fotógrafo registrense radicado em Belém do Pará, Miguel Chikaoka; além de sua própria exposição individual com autocuradoria: AS CORES DO CERRADO. Também ministrou oficinas no SESC-Registro (aquarela, origami e teatro de sombras) e na UNESP-Registro (aquarela e contação de histórias).
Em dezembro de 2021, Cely Naomi Uematsu foi curadora de sua exposição ÁGUA E LUZ, reabrindo as atividades presenciais da Casa Shigeo para o público. Como resultado de sua introspecção gerada pela pandemia, ela dedicou-se à literatura e à dramaturgia infantojuvenil escrevendo quatro peças teatrais para teatro negro de bonecos e para o teatro de papel Kamishibai.
Também dedicou-se à ilustração de obras de outros autores (ainda inéditas) e às pesquisas sobre duas paixões antigas: a arte-postal e os livros de artista.