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O Furacão e o Vento de Pipa

Eis uma história onde o personagem principal é nada menos do que… o Vento!
Eu a escrevi há muito tempo, quando o meu filho ainda era um menininho (hoje, ele já é adulto). Esta história fala das muitas faces do mesmo e constante Vento. Por exemplo: o vento bom para soltar pipas, e o vento que sopra forte e é destruidor. Mas, acima de tudo, esta história singela e muito comovente fala sobre a resiliência para encararmos as adversidades da vida com coragem, solidariedade e confiança na nossa força para enfrentarmos o Destino, e superarmos os obstáculos do Caminho.

Há muito tempo, havia um lugar onde as terras eram férteis, a água era límpida, e todos os que lá viviam eram muito amigos. Eram trabalhadores da terra, e, dela, retiravam o seu sustento, tanto para o consumo das próprias famílias, quanto para trocar e vender o excedente. Aos olhos do mundo, essa terra seria considerada um paraíso, se não fosse por um detalhe: a proximidade com um grande deserto. Talvez, por causa disso, não raro, esse quinhão de terra era assolado por terríveis furacões e tempestades de areia.
Em um dos sítios, vivia uma pequena família: um casal de jovens agricultores, e os filhos Quico, de 9 anos, e Fifo, um lindo bebê de seis meses.
Eles tinham alguns animais: um cavalo, uma égua, um potrinho, uma vaca leiteira, o seu bezerrinho e várias galinhas poedeiras. Eles também cuidavam de uma horta, de um pequeno pomar e de um campo semeado com trigo e aveia.
Quico gostava muito de subir em árvores, e, um dia, ele estava em um galho de uma árvore bem alta. Ele gostava de sentir o vento fresquinho batendo em seu rosto.
Quico estava lá, sentindo o ventinho gostoso, quando ele percebeu que o vento mudou de temperatura, de repente. Aquele vento (que não lhe era estranho) estava chegando lá de longe, lá do deserto.
O menino viu uma poeira de areia levantando-se, e nuvens escuras crescendo no céu. E esses eram os sinais que seu pai lhe ensinara!
Quico desceu rapidamente da árvore e correu para a varanda de sua casa.
Lá estava o sino de alerta, que só deveria ser tocado em casos de urgência. Quico tocou-o vigorosamente, pois havia um perigo real se aproximando, e ele precisava avisar a todos os fazendeiros!
Então, uma música de sinos fez-se ouvir de fazenda em fazenda:
– Belém! Belém! Belém! Belém! – soou o sino de Quico, com vigor.
– Blom-blom! Blom-blom! Blom-blom! – respondeu o sino da fazendinha mais próxima. – Plim-plim-plim! Plim-plim-plim! – tocou outro sino, ressoando distante.
E mais sons de sinos ecoaram:
– Plem-plem-plem! Plem-plem-plem!
– Blim-blim! Blim-blim!
– Plimplom-plimplom! Plim-plom! Plim-plom!
– Belim-plom-plom! Belim-plom-plom!
Depois, todos os fazendeiros recolheram os seus animais e os levaram para os seus esconderijos: uma espécie de quartos sob a terra, que havia em todas as fazendas, justamente, para ocasiões perigosas como a que se prenunciava.
O pai de Quico correu para o pasto e assobiou:
–Fiiiiiuiiii! Fiuuuuuiiiii!!!
E os cavalos vieram, correndo.
A mamãe acomodou os cavalos no quarto secreto sob a terra, e o papai voltou para o campo, chamando:
– Vem! Vem! Vem!
A vaca apareceu, correndo, ao lado de seu bezerrinho, e o papai os conduziu depressa para o esconderijo.
Enquanto isso, Quico carregou o seu irmãozinho no colo, e o deitou suavemente no bercinho que a mamãe sempre deixava lá no esconderijo, por precaução. Depois, conduziu todas as galinhas, utilizando um truque bem simples: oferecendo espigas de milho para elas, do galinheiro, até o interior do esconderijo sob a terra.
A mãe levou comida, cobertas e mais algumas coisas que pudessem precisar lá embaixo.
Quando todos estavam protegidos, o papai fechou a porta do esconderijo: blumm!
Mas, não ficaram no escuro, não! A mamãe acendeu velas e lamparinas. E o papai, colocou cobertores no colo dos filhos.
Lá embaixo, eles ficaram escutando os barulhos da destruição:
– Cabrumm! Brum-brum-brum!
– Crim-crum! Crim-crum-crum!
– Cataprum-tum-tum-tum!
Porém, como sempre acontecia, o furacão passou, e transformou-se em chuva pesada.
Nesse momento, todos ficaram tranquilos!
O neném, tirou uma soneca.
A mamãe, preparou o jantar.
O papai, cuidou dos animais.
E o menino, desenhou com os seus lápis coloridos. Depois do jantar, como estava tarde, eles dormiram ali mesmo.
No dia seguinte, o papai abriu o alçapão, bem cedinho.
Havia um sol brilhante no céu, mas, apesar dele, todos ficaram tristes com o que viram: a cerca do pasto estava destruída. Muitos galhos quebrados estavam esparramados pelo chão. Havia telhas quebradas e desarrumação por todo o lado.
Porém, como estavam acostumados, cada um foi tratando de cuidar do que sabia: o papai conduziu os animais para fora, depois foi pegar as ferramentas para consertar a cerca. O menino foi ajudar. A mamãe fez de tudo, nem deu para contar o quanto.
E, assim, alguns dias se passaram antes que tudo estivesse como de costume.
Quando já havia brotinhos novos apontando para fora da terra, lá na horta, o papai sentiu um vento em seu rosto. Ao longe, ele viu roupas agitando-se no varal. Era um vento morno, vindo, talvez, lá do mar. E forte o bastante para…
Ele guardou a sua enxada, chamou o Quico, e, juntos, cortaram varetas de bambu. Depois, pegaram papel de seda, cola, uma lata com linha comprida enrolada e… fizeram uma linda pipa!
Os dois colocaram a pipa no ar, e ela voou pelo céu, levada pelo vento bom. A pipa deu cambalhotas, fez manobras, e deu rasantes na terra, alegremente. Os dois ficaram brincando até o sol espichar as suas sombras no chão.
Depois, voltaram para casa contentes!

 

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